sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Pedro Monteiro

O escritor Pedro Monteiro é piauiense de Campo Maior. Sua infância deu-se no roçado ao som das histórias contadas sob a luz de lamparinas ou em terreiros clareados pelo luar.
O apetite pelos livros fez com que o autodidata Pedro pudesse aguçar a imaginação e sua verve observadora.
Aos dezessete anos pousou com suas palavras em terras paulistanas onde angariou novos conhecimentos e, sobretudo pode através do contato com a periferia da metrópole ampliar sua luta por justiça e solidariedade. Sobre isso o autor comenta: “ É agir contra o embrutecimento, a alienação, e a coisificação do homem”.
Há pouco tempo em companhia de Júlio Verne deu “A volta ao mundo em oitenta dias” numa bela adaptação em cordel do clássico do escritor francês.
Com Pedro Monteiro o blogue Tecendo em Reverso reforça a frase de Suassuna...nós também não trocamos nosso oxente pelo ok de ninguém.


                                                 Foto: Arquivo pessoal do autor


Pedro Monteiro por ele mesmo:

Sou poeta cordelista
Me chamo Pedro Monteiro,
Amasso o barro da rima
No metro do bom oleiro,
Sou um campo-maiorense,
Das terras Piauiense,
Nosso sertão brasileiro.


Tecendo em Reverso – Como se deram as primeiras aproximações com a Cultura Popular?

PEDRO MONTEIRO – Interessante; eu tenho muitas lembranças de quando era menino, das festas de reis “boi de reisado”, das conversas nos terreiros em noites enluaradas ou mesmo alumiado por lamparina. Sempre que ia dormir, minhas irmãs mais velhas entoavam cânticos em cordel. Isso mesmo, a leitura era cantada, além de muitas histórias. Destaque para os cordéis que cantavam da chegada de Lampião no Céu, no Inferno, José de Souza Leão, As bravuras do valente Apolinário, Princesa da pedra fina, A triste Partida e Pavão Misterioso, entre outros. Cresci, migrei para São Paulo aos 17 anos e só em 2008, já com 52 anos, fazendo uma pesquisa sobre linguagem, para concluir minha participação ao fazer uma oficina de direção teatral foi que reencontrei a Literatura de Cordel. Graças a um encontro com os poetas Marco Haurélio, Varneci Nascimento e João Gomes de Sá, que participavam de uma feira de Cultura Nordestina no Anhembi.  A partir desse momento, fui encorajado por Marco Haurélio a escrever Chicó, o Menino das Cem Mentiras, minha estreia no mundo do Cordel, daí, acho que despertei para uma vocação que, até então, desconhecia.

Foto: Arquivo pessoal do autor


Tecendo em Reverso- Há em alguns de seus livros uma certa aproximação com o teatro que nos remete à obra de Ariano Suassuna. Qual é o legado que Suassuna deixou ao povo brasileiro?

PEDRO MONTEIRO— Uma riqueza grandiosa. Um mestre no conto, no romance, na poesia e na prosa. Dotado de tino afeiçoado ao humor refinado, mas sem abrir mão da crítica velada às injustiças sociais. Ele transforma o simples em obra de grande erudição. Curioso, ele buscou inspiração nos folhetos de cordéis para brilhar nos palcos teatrais, telas de cinema e televisão. Exemplo: O Auto da Compadecida e A Pedra do Reino, O Príncipe do Sangue do Vai e Volta, entre outras. Uma grande perda para a cultura Brasileira.



A cultura popular
Tem hoje grande lacuna,
A morte sempre inclemente
É uma perversa gatuna,
Fila cristãos e ateus,
Desta vez levou pra Deus
Ariano Suassuna.

Tecendo em Reverso- Atualmente nas grandes metrópoles ocorre um movimento difuso da cultura popular em seus diversos seguimentos, tais como: teatro, música e dança. Como você avalia esse momento?

PEDRO MONTEIRO – Acredito que seja resultante de uma necessidade de respostas, dado a sua importância no contexto cultural de um país, pois ela é o que temos de mais legítimo. Dessa forma, parece valer além do anseio popular, também o acadêmico, onde a Xilogravura, o poeta repentista também vem ganhando mais espaço.



Foto: Arquivo pessoal do autor

Tecendo em Reverso- A sua obra mais recente: “A volta ao mundo em 80 dias” encontra-se inserida no projeto Clássicos em Cordel. Como foi adaptar a obra de Júlio Verne, um dos autores mais traduzidos em todo o mundo?

PEDRO MONTEIRO- Uma responsabilidade e tanta! Uma grande responsabilidade. Primeiro, pela importância do seu autor e dessa obra para a literatura Universal. Depois, por recontar essa história dentro dos padrões necessários para compor a “Coleção Clássicos em Cordel”, coordenada por Marco Haurélio e publicada pela Editora Nova Alexandria.



Tecendo em Reverso – Qual é a sua avaliação sobre a inserção do Cordel no atual “mercado” editorial?


PEDRO MONTEIRO – Acho que, cada vez mais, os leitores vêm descobrindo e tomando gosto pela Literatura de Cordel. Isso, graças a vários fatores, merecendo destaque para a qualidade das publicações:  conteúdo dos textos, gramática, ilustrações mais atraentes e também no formato de livros. Dessa forma, ocupam espaços nas grandes livrarias e salas de leituras, antes, jamais ocupado, ganhando, assim, mais e mais visibilidade. 


Juliana Gobbe

7 comentários:

  1. Quero deixar os meus agradecimentos ao "O Tecendo em Reverso" e a amiga escritora Juliana Gobbe.

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  2. Parabéns poeta, você merece chegar até aqui ! Com certeza, sua escada para o sucesso terá vários degraus. E, você subirá um a um, como bom nordestino que és. Talento tens e muito, torcida nem se fala. Sucesso!Sucesso!

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  3. É do poeta lapidar versos, tecê-los bem, assoprá-los aos quatro pontos cardeais. Pedro monteiro, assim vem nos apresentando suas crias. Parabéns ao Blog, à Juliana pela entrevista.

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  4. Meus sinceros agradecimentos aos cumprimentos e generosos incentivos de Marilene Dornelas e Aldy Carvalho.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. A sorte me ofereceu
    Uma página de vitória,
    Conhecer a Juliana
    Que é autora notória,
    E no Tecendo em Reverso,
    Também contei minha história

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