Nesses dias em que a educação brasileira mais
uma vez se defronta com o caos e, parafraseando Caetano Veloso em Tropicália: “
Os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis” . O país enfrenta
medidas que nada mais fazem do que reforçar o silenciamento e a ignorância do
povo. Por um lado as queixas repletas de razão se multiplicam, por outro
ouvimos vozes dissonantes num processo enriquecido de luta.
Julia Malanchen é graduada em Pedagogia pela
Universidade Estadual do Oeste do Paraná com mestrado em Educação pela
Universidade Federal de Santa Catarina. Possui doutorado em Educação Escolar
pela Unesp. Atua como docente no curso de pedagogia da Unioeste / Foz do Iguaçu.
Nesta entrevista conversamos com a pesquisadora
sobre seu mais recente livro: Cultura, Conhecimento e Currículo: contribuições
da pedagogia Histórico-Crítica, publicado pela editora Autores Associados.
Foto: Divulgação
Confiram:
Tecendo em Reverso – Como se deu o interesse
por pesquisar “Cultura, Conhecimento e Currículo”?
JULIA MALANCHEN – A escolha dessa
temática como objeto de estudo no doutorado deu-se devido à minha participação,
entre os anos de 2006 a 2009, como uma das coordenadoras do processo de
elaboração do novo currículo, na Secretaria Municipal de Educação de Cascavel
no Paraná. O Currículo foi elaborado para as etapas da Educação Infantil e dos
anos iniciais do Ensino Fundamental e para as modalidades de : Educação de
Jovens e Adultos e Educação Especial.
O currículo do município de Cascavel teve como referencial teórico o
materialismo histórico-dialético, a psicologia histórico-cultural e a Pedagogia
Histórico-Crítica. Devido a esta opção teórica, encontramos diversas
dificuldades no processo de discussão e elaboração da proposta curricular. Uma
das principais foi a falta de referências bibliográficas para a definição de
elementos importantes do currículo a partir da concepção teórica adotada e que
contribuíssem para a seleção de conteúdos nas diversas disciplinas.
As dificuldades se
acentuaram, em nossos estudos e elaborações, porque os documentos orientadores,
encaminhados pela diretoria de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação
Básica (DCOCEB), vinculada à Secretaria de Educação Básica – SEB/MEC direcionam
seus fundamentos pela perspectiva multicultural, portanto, distinta da opção
feita pela Rede Pública de Ensino Municipal de Cascavel.
Mediante esta experiência no
município de Cascavel e o quadro das políticas curriculares nacionais, surgiu
meu interesse em direcionar minha pesquisa no sentido de contribuir com a
discussão sobre a questão de uma teoria curricular e a Pedagogia
Histórico-Crítica, visto que esse é um elemento de suma relevância, levantado em
minha prática social e no campo dos estudos sobre o currículo.
Tecendo em Reverso – De que maneira o
relativismo cultural orientado pelas políticas curriculares nacionais pode
direcionar princípios ideológicos contrários a uma educação revolucionária?
JULIA MALANCHEN – Pude observar, durante minha pesquisa,
que toda a discussão sobre currículo e elaboração das diretrizes curriculares
nacionais nos últimos anos, foi direcionada pela questão do respeito à
diversidade cultural e ao pluralismo de ideias, que de forma direta tem
incluído o discurso relativista nos documentos nacionais que orientam a
formação inicial e continuada de professores, assim como a elaboração de
currículos. A partir do discurso
relativista/multiculturalista, é
condenada a ideia de que existam conhecimentos científicos, artísticos e
filosóficos cujo grau de riqueza, desenvolvimento e universalidade justifique
seu ensino a todos os indivíduos. A objetividade e a universalidade do
conhecimento não são consideradas relevantes, visto que se tornaram um
desrespeito às culturas populares que devem ser consideradas e valorizadas num
currículo escolar. Esta defesa está pautada num outro discurso: o da
humanização do capitalismo por meio de atitudes que valorizem a democracia
política e cultural. Isso é problemático
porque segundo os multiculturalistas, a cultura é uma forma geral de vida de um
determinado grupo social, com interpretações e visões de mundo por este
adotadas. Estes afirmam ainda que a inclusão dessa forma de cultura no
currículo pode resultar em respeito e receptividade às culturas dos educandos,
por mais desprestigiadas que sejam. É realizada uma defesa, portanto, de
conhecimentos ou saberes populares, não havendo hierarquia entre conhecimento
deste ou daquele grupo, deste ou de outro momento histórico, desta ou daquela
etnia, pois afirmam ser necessário romper com o “daltonismo cultural” dentro do
espaço escolar.
Nesta
direção, os multiculturalistas, argumentam a favor de princípios da diversidade
cultural, pelos quais acreditam “intensificar a sensibilidade” dos professores
e gestores, para a existência de uma pluralidade de valores e culturas, no
“interior de cada sociedade” e com isso entendem como possível resgatar
manifestações culturais de grupos ameaçados, e organizar a participação de
todos num esforço para diminuir as injustiças e opressões e restringir preconceitos.
A
articulação do pensamento pós-moderno e relativista com as bases do
Multiculturalismo é claramente observada em seus pressupostos, como assinalo a
seguir: a) considera-se impossível a superação do capitalismo, da propriedade
privada dos meios de produção e da divisão social do trabalho limitando-se as
lutas sociais ao objetivo de aquisição, efetivação ou ampliação de direitos dos
grupos subalternizados e diminuição das injustiças sociais e preconceitos; b)
Abandona-se a luta unificada, pautando-se no entendimento de que a luta de
classes não é o motor da história; c) critica-se qualquer pretensão ao
conhecimento objetivo e nega-se que existam conhecimentos com maior nível de
desenvolvimento, transformando tudo numa questão de reconhecimento do saber do
cotidiano de cada grupo, numa espécie de centralidade epistemológica do
cotidiano; d) a ciência é vista apenas como uma maneira pela qual um grupo
social, o dos cientistas, busca dar algum significado a fenômenos naturais ou
sociais, da mesma forma que outros grupos buscam a mesma coisa por meio outros
saberes; e) celebram-se as diferenças, o local e o indivíduo recluso à sua
subjetividade, negando-se a possibilidade de compreensão da realidade como um
todo estruturado e dos processos essenciais à dinâmica que movimenta esse todo;
f) assim como o conhecimento sistematizado nos livros é posto sob suspeita, a
escola também o é, já que o saber relevante para a vida seria construído
diretamente na vivência cotidiana e nas lutas sociais; g) a cultura oral é
considerada mais rica e significativa do que a escrita; h) a cultura parece ser
entendida mais como uma questão de reconhecimento das diferenças entre “nós” e
“os outros”; j) Afirma-se que a linguagem da escola é colonizada, etnocêntrica,
discriminadora e precisa ser descolonizada; l) nega-se o ideal de formação do
sujeito racional e consciente; m) o ideal de transformação social é substituído
pelo de inclusão social, que ocorreria pela valorização da cultura de cada
grupo.
Esses
pressupostos relativistas do Multiculturalismo evidenciam por si mesmos o
caráter problemático desse ideário por pelos menos duas grandes razões.
A primeira
delas é a incoerência entre o caráter supostamente crítico com que esse ideário
se apresenta e o conformismo social que caracteriza sua atitude, já que o
limites de todas as lutas sociais é dado pela negação da perspectiva de
superação do modo de produção capitalista. A segunda razão pela qual esse
ideário se mostra problemático é o fato de que, admitindo-se essa visão de
valorização da cultura dos grupos, a desvalorização da escola e do trabalho
educativo significa, no limite, a possibilidade de extinção de um grupo social
de grande importância para a história do mundo moderno, o dos professores.
Esse
ceticismo epistemológico acaba por ser um duro golpe na produção do
conhecimento e de forma direta em sua difusão. Pois há nesse discurso, uma
clara desvalorização da teoria, um “recuo na teoria” como nos afirma Moraes
(2003). Isto é, essa concepção acaba por contribuir com o empobrecimento da
pesquisa educacional, da formação de professores e da elaboração de currículos
escolares, levando a uma pedagogia que desvaloriza o conhecimento escolar e a
uma epistemologia que desvaloriza o conhecimento teórico/cientifico/acadêmico (DUARTE,
2003).
Se é negada
ou posta em dúvida a possibilidade de conhecimento objetivo da realidade, é
inevitável que o mesmo aconteça com a ideia de transformação dessa realidade a
partir do seu conhecimento objetivo.
É necessário
que se retome aqui a ideia de mudança e transformação a partir do marxismo,
pois sem transformação social radical, não se transforma, não se muda a nossa
realidade de forma efetiva.
Compreendo,
desse modo que o discurso que apoia a luta para a construção de uma sociedade
multicultural, intercultural e híbrida, é uma maneira astuta de retirar da
agenda política da esquerda a luta pela superação do modelo capitalista.
Tecendo em Reverso – Quais são hoje as
tendências de estudo sobre currículo no Brasil e como estão avançando estes
estudos sob a perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica?
JULIA MALANCHEN – Na atualidade a grande influência no
campo dos estudos sobre currículo no Brasil, advém dos fundamentos do
multiculturalismo. O GT de Currículo na ANPED, os grupos de pesquisa nas
universidades, os consultores do MEC, a Associação Nacional de Currículo, as
revistas da área e pesquisadores, demonstram que seus fundamentos estão
ancorados no discurso/pensamento multicultural/intercultural
e relativista. Autores como Tomaz Tadeu
da Silva, Antonio Flávio Barbosa Moreira, Ana Canen, Sandra Mara Corazza, Alice
Casimiro Lopes, Elizabeth Macedo, Nilda Alves, Alfredo Veiga Neto e Vera
Candau, são alguns exemplos de autores reconhecidos na área do currículo e que
têm dedicado suas pesquisas a socializar as ideias multiculturais, portanto não
marxistas e por consequência não ancoradas em uma teoria que tem como objetivo
final a transformação radical da sociedade.
Em relação à pedagogia Histórico-crítica, no momento que
realizei minha pesquisa, não encontrei, um trabalho específico que tratasse
sobre Pedagogia Histórico-Crítica e teorias curriculares, porém observei que,
no conjunto de produções realizadas até aquele momento a partir desta
pedagogia, era possível identificar diversos elementos que contribuíam para a
conceituação de currículo escolar. Esses elementos foram encontrados tanto nas
obras de Dermeval Saviani como de outros autores que têm procurado contribuir
para a construção coletiva da Pedagogia Histórico-Crítica. E foi esse caminho
que segui para elaborar o quarto capítulo de meu trabalho que busca avançar no
sentido de contribuir para os estudos e a discussão no campo da organização do
currículo escolar a partir dos fundamentos da Pedagogia Histórico-crítica. Na
sequência, Carolina Nozella Gama, também tratou em sua tese defendida em 2015 na
UFBA, sobre o tema currículo e a
pedagogia histórico-crítica.
Tecendo em Reverso - Como um estudo da
Cultura enviesado num aporte teórico marxista pode contribuir para a superação
da visão multiculturalista posta pelo campo de pensamento hegemônico?
JULIA
MALANCHEN – Então, como temos visto o conceito de cultura, na
contemporaneidade, é uma temática de amplos debates, sobretudo na área das
ciências humanas e, mais designadamente, no campo da antropologia. Devido à
grande produção teórica sobre esse termo não se encontrar no campo marxista e
devido ao fato de que a produção marxista ser censurada ou simplesmente
ignorada, o debate sobre o tema da cultura a tem desvinculado da base
material da sociedade, numa perspectiva fortemente idealista e anistórica e
dessa forma que esta é compreendida e utilizada pelos multiculturalistas.Definir,
portanto, o conceito de cultura a partir da perspectiva marxista, na
atualidade, demanda um duplo esforço. Em primeiro lugar é preciso desvencilhar
esse conceito de todo o lastro das confusões e artimanhas ideológicas do
pós-modernismo, e portanto, multicultural e relativista. E esse trabalho de
faxina é penoso porque as armadilhas do discurso pós-moderno estão fortemente
impregnadas na mentalidade acadêmica contemporânea, a ponto de serem
reproduzidas até por aqueles que se propõem a fazer a crítica ao
pós-modernismo. Simultaneamente a essa faxina é preciso construir sobre
fundamentos sólidos a teoria marxista da cultura e de sua transmissão pela
educação escolar.
Meu estudo, durante a tese, direcionou-se na busca de uma
definição de cultura que levou em conta a relação ser humano e natureza, ou
seja, o trabalho como ação do ser humano que transforma o meio modificando-o e
modificando-se e, com isso, produzindo cultura. Como Marx escreveu, o processo
de desenvolvimento do ser humano é, de forma simultânea, um processo de
humanização da natureza e de naturalização do gênero humano. Para compreender na tradição marxista a definição de cultura, faz-se
necessário analisar como o ser humano se “humaniza”, isto é, como forma a si
mesmo no processo histórico. Entretanto, a humanização tem ocorrido por meio da
alienação. Isso significa que as mediações e determinações entre a cultura e a luta de
classes são decisivas para compreender o processo de produção material, do qual
se desdobra a produção simbólica que, na perspectiva histórica, é determinada
pelas relações que os seres humanos constroem no processo de produção da
própria existência. A partir das relações de produção podemos delinear o
desenvolvimento cultural em sua materialidade.
É precisamente pela mediação do trabalho na relação do ser humano com a
natureza, momento em que começa a produzir cultura diferenciando-se dos outros
animais, que se inicia o processo de humanização, ou seja, da formação do ser
humano como ser social. Quando isso acontece o ser humano dá um salto
qualitativo no seu processo de evolução, dando início a uma nova esfera
ontológica, a esfera da socialidade, isto é, do ser social.
Sintetizando, podemos afirmar as seguintes características da cultura
numa perspectiva marxista: a) É resultado do trabalho, isto é, da ação do ser
humano sobre a natureza e, portanto, define-se como cultura material; b)
Juntamente com a cultura material se formam os elementos que compõem a cultura
não material ou simbólica, como a linguagem, as ideias, a ciência, a filosofia
e a arte; c) a ciência, a arte e a filosofia, dessa forma, são uma parte da
cultura, e não podem ser confundidas como seu sinônimo; d) a apropriação da
cultura é sempre um processo educativo, ou seja, é necessária a existência de
mediações para que a mesma seja transmitida e apropriada no processo de
humanização.
A partir das considerações feitas até aqui, podemos
concluir que, numa perspectiva marxista, cultura é tudo o que o ser humano produz,
desde o mais simples e elementar, até o mais complexo. Nesse sentido, é imperativo compreender a cultura como um ilimitado
campo de produções humanas materiais e não materiais, tais como, os
instrumentos de todo tipo, os conhecimentos, desde o mais elementares até
científicos e filosóficos, as obras das artes e da literatura, as várias formas
de linguagem, os hábitos e costumes, entre outros. A cultura é
“atividade humana condensada” (DUARTE & MARTINS, 2013), isto é, atividades
que se acumulam nos objetos produzidos pelos seres humanos. Assim, a cultura
existe objetivamente como acúmulo de atividades e experiências e subjetivamente
na medida em que os indivíduos se apropriam daquilo que os outros seres humanos
produziram e que está acumulado.
A cultura
humana deve ser universal, desse modo, não deve pertencer a uma classe ou a um
grupo, pois é produzida historicamente por toda a humanidade, em suas relações
e luta de classes. No capitalismo, está nas mãos da classe burguesa, mas, numa
sociedade comunista, não pertencerá somente ao proletariado, mas sim a todos,
pois não existirão mais classes. Nessa direção numa sociedade cindida em
classes, a cultura também o é, mas, por contradição, a cultura produzida nessa
sociedade, ao mesmo tempo que expressa o particular, também possui o universal.
Dito de outro modo, a cultura é atravessada pelas classes, e por isso expressa
de modo universal a humanidade, e é pela categoria da contradição que devemos
compreender esse aspecto da cultura humana.
No campo do
marxismo, a cultura é resultante e, simultaneamente, é formadora do gênero
humano e, de nenhuma forma, está desarticulada da base material da existência.
Porém, os multiculturalistas/relativistas culturais permanecem numa visão
particular e reducionista da cultura. Os mesmos argumentam que não existe uma
cultura universal, que isso é resultado de uma visão colonialista. Consideram
tratar-se de uma visão opressora e impositiva da cultura branca o que impede a
diversidade e tolhe a liberdade dos seres humanos. Também analisam que o
processo histórico humano recebeu até aqui imposições de grupos dominantes, e
que os mesmos destruíram culturas de grupos menores. Desse modo, argumentam
que, quando preconizamos uma cultura universal, nossa postura é etnocêntrica.
Por outro
lado, como mostra o marxismo, somente por meio da universalização da cultura
material e não material poderemos chegar à verdadeira liberdade do ser humano,
como resultado de grandes contradições da profunda luta de classes desenvolvida
na história social.
Em meu
trabalho defendo que a apropriação da herança cultural humana pela classe
trabalhadora é necessária por, pelo menos, dois motivos.
O primeiro é
que os trabalhadores precisam de conhecimento e condições para organizar outra
sociedade, e para isso é necessário apropriar-se de tudo o que foi produzido
até o momento, pois não se constrói um novo modelo social com ausência de
conhecimento do que já existe. Deste modo, tomar posse da cultura produzida
historicamente é condição imprescindível para a construção do socialismo.
Duarte (2006, p.610) explica que: “tal processo possibilitará a constituição de
uma cultura universal que supere os limites das culturas locais, incorporando
toda riqueza nelas contidas e elevando essa riqueza a um nível superior”. Para
Duarte (2013), essa apropriação representa um progresso em direção à
humanização, ou seja, da universalização e da liberdade do homem que ocorre no
capitalismo, por contradição, de forma limitada e sob o jugo alienante da
sociedade burguesa.
O segundo
motivo é o de que, em termos de formação humana, de acordo com Leontiev (1978)
e com Martins (2013), o ser humano só desenvolve em plenitude suas funções e
aptidões, ao ter acesso ao que existe de mais rico produzido em nossa sociedade
na forma de cultura material e intelectual.
Desse modo, a
formação de um ser humano omnilateral, e de outra sociedade superior a essa, só
será possível com a apropriação da riqueza acumulada e das grandes obras
produzidas pelo gênero humano. Nessa direção, mais do que
nunca, é imprescindível entender como a relação com a cultura proporciona a
manutenção ou a superação do modo de produção capitalista. Compreender isso é
um desafio, pois o desenvolvimento cultural precisa contribuir com a
emancipação humana e, desse modo, faz-se urgente confrontar as teorias que
dissociam a cultura das relações de produção, pois essas, antagonicamente,
afirmam seu posicionamento político, que é o de adaptar de maneira
apaziguadora, ou “humanitária”, a classe trabalhadora à socialidade capitalista.
Tecendo em Reverso – Em seu trabalho lemos:
“Globalização exige isto: um homem que não almeje igualdade nem na partida nem
na chegada. A compreensão da sociedade dividida em classes desaparece”. Sabe-se
que o horizonte do chamado “pensamento único”também está cada vez mais presente
na nossa sociedade. Como você avalia este atual momento e suas consequências
para a educação como um todo?
JULIA MALANCHEN – Estamos vivendo um momento
crítico na educação (Lei da mordaça, projeto Escola sem partido, Base nacional
Curricular comum pautada no
multiculturalismo, privatização da educação, aligeiramento e esvaziamento da
educação escolar), na política (retomada
do autoritarismo, golpe contra democracia, manobras antiéticas e diversos casos
de corrupção) na economia (aumento da
inflação, desemprego, cortes de subsídios, ameaça a previdência, projeto (PEC 241/2016) do governo Temer, que fixa o
teto para gastos públicos etc ) e
em todas as formas de relações sociais (violência, preconceito e xenofobia). Vejo como um momento desafiador e no qual
devemos colocar nossos argumentos e fundamentos em ação. Na verdade, nos últimos
50 anos tivemos avanços na conquista de
direitos pela classe trabalhadora mesmo dentro da abrangência de um estado burguês,
e agora, o capitalismo e seus defensores, estão direcionando suas ações com
violência física e psicológica, no sentido de retirá-los. Os arautos do
capitalismo estão em busca da diluição do pouco que sobrou de nossa luta e
retirar o que conseguimos, então agora é hora realmente de resistirmos, de
mostrarmos nossa força, fundamentos e organização. Agora, ou lutamos ou ficamos
olhando tudo paralisados e atônitos, e perdemos tudo que gerações passadas
lutaram e dedicaram sua vida para conseguir. A luta de classes claríssima está acirrada
e nossa postura deve ser de combate e resistência nas salas de aula e mais do
que nunca nas ruas!!
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