terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Socorro Lira

Por Juliana Gobbe

Socorro Lira é uma artista de muitos instrumentos. Além de cantora é poeta. Extremamente preocupada com os rumos da vida social brasileira, a artista tem uma ativa participação nas redes sociais e fora delas.
Em 2012 foi agraciada com o mais importante prêmio da música na23ª edição do Prêmio de Música Brasileira.
Recentemente lançou o EP: Os Sertões do Mundo e o livro de poesias : A Pena Secreta Da Asa.
A sessão de autógrafos do livro com recital de poesias acontece hoje na Casa das Rosas em São Paulo às 19horas.
Sua voz dispensa comentários, pois trata-se de um canto bem elaborado e rico de uma sensibilidade genuinamente brasileira. O blogue Tecendo em Reverso conversou com a artista sobre sua carreira.

Confiram:


Tecendo em Reverso - De que maneira o aboio (canto dos vaqueiros) influenciou a menina Socorro Lira no interior da Paraíba?

SOCORRO LIRA – Minha mãe decorava o canto dos vaqueiros (não me lembro de ter vaqueiras) e cantava em casa. Ela gosta muito. E eu ouvia isto de minha mãe ou vindo da mata branca (caatinga). Morávamos na roça. Era um som que vinha de longe em todos os sentidos. Mágico.


                                                 Foto: Arquivo pessoal da artista.

Tecendo em Reverso - Como nasceu a poeta Socorro Lira? Conte-nos um pouco sobre seu mais recente trabalho: A Pena Secreta Da Asa.

SOCORRO LIRA – Nasceu ouvindo poesia cantada, poesia dita, brincando de fazer rima, as brincadeiras de criança tinham poesia, como esta: “lua, luinha / me dê pão com farinha / pra eu dar à minha gatinha / que tá presa na cozinha (Que maldade “prender” a gatinha, mas era só no verso... risos).
Este livro nasceu de uma necessidade minha de organizar meus poemas e lhes dar atenção. É importante organizar e dispor para quem quiser ler (poesia) e ouvir (canção). Aí, a Uka Editorial publicou. Isso foi muito bom, permitiu uma edição bacana.


                                                    Foto: Arquivo pessoal da artista.

Tecendo em Reverso - O documentário Aqui tem coco – Um dia em Caiana dos Crioulos insere-se no projeto Memória Musical da Paraíba. Quais outras atividades estão ligadas a este projeto?

SOCORRO LIRA – Além desse documentário, produzimos 2 CDs com o cancioneiro tradicional de Caiana; o CD Pedra de Amolar, homenagem ao compositor Zé Marcolino e com participação de Sivuca, Marinês, Dominguinhos, Vital Farias e mais um time de artistas; e o álbum Lua Bonita onde interpreto a obra de outro paraibano, outro Zé, Zé do Norte. Ganhei o Prêmio da Música Brasileira com este, em 2012. Tenho bastante coisa registrada que poderá ser publicada ainda. Falta perna.

Tecendo em Reverso - Em que medida a premiação como melhor cantora regional na 23ª edição do Prêmio de Música Brasileira trouxe ao público um contato mais intenso com o que se produz hoje no nordeste?

SOCORRO LIRA – Creio que seja, esta, a mais importante premiação da música brasileira. Sou grata, ajudou bastante. Trata-se de um reconhecimento importante que nos motiva a continuar. Um prêmio serve para animar, tornar publica e afirmar uma trajetória ou uma obra, dentro de um determinado alcance. No mais, a vida segue normalmente.

Tecendo em Reverso - Quais foram as motivações que a levaram a oferecer ao seu público  Os Sertões do Mundo em formato EP?


SOCORRO LIRA – Uma gravação de Dominguinhos na música Fino Poema, que entraria num CD anterior, mas não foi possível. Guardei-a e dela me veio o  nome Os Sertões do Mundo. Pensei que esta canção que fiz para ele, Dominguinhos, e que tem sua sanfona, merecia um lugar especial. Lamento não ter pedido para ele cantar também. Infelizmente.
Depois, um tempo que passei na África, em 2011, trouxe-me o desejo de traçar um paralelo, através da canção, entre o sertão nordestino e o da África do Sul, por exemplo. Como se não houvesse um oceano entre nós. E o fato de sermos uma única espécie que habita esse planeta é um bom motivo. Nunca é demais lembrar-nos disto. Meu encontro com Mia Couto, em Maputo, e ele me dando um livro e falando de parceria também me animou a buscar mais a poesia africana, que é linda. Poema Didáctico é nossa primeira parceria.


                                                     Foto: Arquivo pessoal da artista.


Tecendo em Reverso - Percebe-se nos seus perfis nas redes sociais, uma grande preocupação com os rumos da política no Brasil.Qual é a importância dos artistas nessa espécie de engajamento com as questões que envolvem a sociedade como um todo?

SOCORRO LIRA – Antes de ser artista, sou cidadã. E gostaria que o mundo fosse digno para todo mundo, em toda parte. Quando comecei a compor e cantar eu já era engajada nos movimentos sociais, na Paraíba. Participei de política estudantil na escola e na universidade. A arte é só um jeito de eu dizer o que penso e sinto do mundo, da vida. O resto é a própria vida.



Um comentário:

  1. Muito boa a entrevista, muito interessante a entrevistada. Escolha bastante útil em apresentar alguém fora dos circuitos mais badalados. Fiquei com vontade de conhecer os trabalhos dela.

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