terça-feira, 23 de setembro de 2014

João Gomes de Sá

O alagoano João Gomes de Sá aproximou-se das manifestações da cultura popular ainda quando trabalhava no Museu de Antropologia e Folclore Dr. Théo Brandão, localizado na Avenida da Paz em Maceió. Além de sua incursão no cordel, o autor é dramaturgo e xilógrafo.  São de sua autoria : O Auto do Boi Encantado, Canto Guerreiro e os cordéis: A briga de Zé Valente com a Leide Catapora e, mais recentemente sua adaptação em cordel da obra de Kafka:  A metamorfose.




                                                                   Foto: Divulgação


Tecendo em Reverso - Consta na sua biografia, o trabalho no Museu de Antropologia e Folclore Dr. Théo Brandão. De que forma as atividades ali exercidas despertaram o apreço pela cultura popular?

JOÃO GOMES DE SÁ – O interesse era natural – “interesse interesseiro” – Os frequentadores geralmente eram estudantes de ensino médio e universidades em busca de informações e esclarecimentos sobre as manifestações de Cultura espontânea – o nosso Folclore. Para atender com fundamentos teóricos e práticos, a direção do Museu organizava uma programação temática, ora folguedos, ora danças e palestras privilegiando determinado tema – além de curso sobre a cultura alagoana. A minha contribuição era atender e colaborar nas pesquisas e trabalhos dos alunos e principalmente aos estudantes universitários em trabalhos de conclusão de curso ou tese de pós-graduação, mestrado ou doutorado; informava sobre o tão rico acervo do museu, mas, porém; o que mais despertava interesse, contentamento e vontade de pesquisar e estudar a cultura popular – eram os encontros com os folguedos e danças:  o Guerreiro, A Chegança, As Baianas, O Reisado, entre outros, pelo brilho da indumentária, da musicalidade, do ritmo, do canto, da coreografia dos bailados, dos entremeios e da encenação de Autos.


Tecendo em Reverso -Atualmente há um considerável trabalho de inserção do cordel no ensino de Literatura. Que importância terá a leitura dessas obras nas diferentes séries do ensino fundamental e médio?

JOÃO GOMES DE SÁ - Sempre teve conhecimentos de que alguns livros didáticos oportunizavam a literatura de cordel, mas de forma muita acanhada e algumas vezes com alguns equívocos – isso outrora. Atualmente estudiosos, pesquisadores, autores, poetas cordelistas e professores, compreenderam a importância dessa manifestação rimada e metrificada como ferramenta para estimular os nossos educandos ao estudo, a leitura e construção da literatura de cordel – E aqui, agradecemos as editoras que investiram, acreditaram e difundiram – agora em formato de livro ilustrado, papel de qualidade – exigência do mercado editorial. Com certeza, se ainda estivesse construindo meus cordéis em formato de folheto, em papel jornal ou em sulfite e sem ilustração, não estaria realizando essa entrevista. O cordel continua com a mesma técnica, o mesmo rigor na rima, a mesma forma, de cem anos atrás – mudou sua apresentação, promoção e divulgação nos veículos coletivos de comunicação de massa. Pois bem; para os educandos – às vezes – não ávidos pela leitura, adentram o universo cordeliano de forma prazerosa, curiosos pela rima e métrica; e daí, tudo isso se transforma em música – é o cordel! Tem, agora; uma literatura sem rodeio, objetiva, precisa, atual e atuante, sem esquecer o encantamento, a bravura, a magia, a valentia, a paixão, o ensinamento, o amor dos protagonistas.


                                                                              Foto: Divulgação

Tecendo em Reverso -A realização oral através de gêneros, como o repente e o cordel remetem a um resgate de múltiplas possibilidades de desdobramentos artísticos. A seu ver há hoje um movimento voltado para a encenação do que é produzido pela cultura popular, principalmente em comunidades com pouco acesso à cultura?

JOÃO GOMES DE SÁ- Na verdade, os espaços para espontaneidade e a informalidade sempre estiveram presentes em todos os segmentos sociais, porém mais acentuado, nas comunidades sem condições favoráveis de acesso às informações, e nesse contexto, a cultura popular – se destaca, as tradições populares se renovam, todavia,atualmente, todos têm acesso à informação, ao conhecimento, aos livros, à pesquisa e sendo assim;sou otimista – o mundo imagético, o mundo cibernético, as redes sociais fascinam, seduzem e despertam interesse no público em geral para buscar conhecimento na cultura popular. Veja quantos filmes, novelas, musicais, teatros “bebem’ na fonte da cultura popular! E o cordel, nem se fala!


Tecendo em Reverso – Neste ano você presenteou o público brasileiro com a publicação de Metamorfose de Kafka em cordel. Sua obra apresenta uma variação no que diz respeito à métrica típica do cordel, e também um forte apelo às questões sociais recriando nas estrofes o “emparedamento” dos homens em meio às exigências de um mundo insensível e cada vez mais desumano”. A temática da asfixia social é uma constante na obra do autor da Metamorfose. Qual é o legado que Kafka nos deixou?

JOÃO GOMES DE SÁ - A reflexão!A fuga ao consumismo! É necessário humanizar a vida!
Compartilhar conhecimento é fundamental! Combater a desigualdade social!
Não são “bordões”, “pregões”, com Kafka aprendi a olhar a vida com meus próprios olhos.




                                                              Foto: Divulgação
  

Tecendo em Reverso – Em suas viagens pelo Brasil, você ministra oficinas literárias. Como nasceu o projeto “Salão do Cordel”?

JOÃO GOMES DE SÁ – Sempre tive a vontade de organizar e promover eventos, encontros, tendo como tema central a Literatura de cordel. Quando, em Guarulhos/SP (2006), trabalhei na Secretaria de Cultura – Biblioteca Monteiro Lobato – nasceu aí a oportunidade. Realizamos o I e II Salão do Cordel – com uma programação Literomusical: feira de cordel, exposição de xilogravura, repentistas, cordelistas, poetas cantadores, músicos, palestras, oficinas, contação de histórias e danças.
Com o êxito, apresentei a proposta para a Diretoria de Cultura de Lençóis Paulista – e já realizamos quatro edições, realizamos no Memorial da América Latina, em Barueri/SP e em Guaranésia/MG. Recentemente em Guaxupé/MG.


Dica de leitura:



                                                                              Foto: Divulgação

 Por Juliana Gobbe

Um comentário:

  1. PASSEI AQUI PARA AGRADECER E PARABENIZAR MINHA QUERIDA JULIANA GOBBE. UM ABRAÇÃO.

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