quinta-feira, 12 de março de 2015

Azilde Andreotti




Por Juliana Gobbe



O blogue Tecendo em Reverso traz uma entrevista com a socióloga Azilde Andreotti, doutora em Educação pela Unicamp, também pesquisadora vinculada ao grupo HISTEDBR ( História, Sociedade e Educação no Brasil). A socióloga atualmente é responsável pelo Acervo Histórico do Livro Escolar (AHLE) da Biblioteca Monteiro Lobato – Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Recentemente lançou pela Paco Editorial o Livro:  “O Jornal A voz da infância” (1936-1950) Educação e Cultura na Modernidade Paulistana e é sobre esse trabalho que a autora conversou conosco.


 
Foto: Arquivo pessoal da pesquisadora.



Tecendo em Reverso – O que a levou a pesquisar “ O Jornal  A voz da infância (1936 -1950)”?

AZILDE ANDREOTTI  - Eu conheci o jornal através de um trabalho  de organização do Acervo Memória da Biblioteca Monteiro Lobato. Essa Biblioteca foi criada em 1936, compondo o projeto de políticas culturais de São Paulo, com Mário de Andrade como diretor do Departamento de Cultura e mantinha registros e documentos de sua trajetória espalhados, desorganizados e mal conservados. Nesse acervo encontrei o jornal “A Voz da Infância” que logo me chamou a atenção pelo conteúdo, periodicidade, pela participação das crianças e jovens em todo o processo de sua elaboração como um projeto educativo da Biblioteca. A minha pesquisa se voltou para as ideias que nortearam não só a criação do jornal, mas também seus conteúdos. Essa é uma das possibilidades entre outras que esse jornal apresenta como fonte de investigação.

Tecendo em Reverso – De que forma as diretrizes políticas embasaram a composição do jornal pelas crianças e adolescentes na Biblioteca Infantil Municipal nas décadas pesquisadas?

AZILDE ANDREOTTI – Se pensarmos em política cultural e educativa, a própria criação de uma Biblioteca Infantil pública na década de 1930 demonstra um projeto de atuação mais abrangente em relação à criança, que poderíamos chamar de moderna, na época.  Afinal, as bibliotecas eram vistas como lugar de silêncio, de reflexão, voltadas principalmente ao público adulto. Sem dúvida a iniciativa de elaboração do jornal propiciava a permanência da criança e do jovem na Biblioteca, além de incentivá-los a participar de um projeto organizado, coletivo, e educativo.

Tecendo em Reverso - Como a cidade de São Paulo foi retratada pelo jornal?

AZILDE ANDREOTTI – Eis aí um dos aspectos curiosos do jornal, pois além da descrição de espaços urbanos como praças e ruas da época através de crônicas, transparece, em vários momentos, um sentimento de enaltecimento de São Paulo por conta da Revolução Constitucionalista, muito próxima de 1936, quando foi editado o primeiro número do jornal. Mas esse sentimento vai se diluindo com o tempo e outro aparece, o orgulho do progresso, das avenidas e dos prédios que surgiam na cidade.
Tecendo em Reverso - Em seu livro lemos: “As propostas de trabalho da Biblioteca atendiam a necessidade de despertar o interesse da criança indicando a semelhança com os princípios da Escola Nova, considerados processos mais criativos e menos rígidos do que as práticas educacionais tradicionais”. Até que ponto o escolanovismo norteou as atividades da Biblioteca?

AZILDE ANDREOTTI – As ideias do movimento da Escola Nova se fortaleceram nos anos de 1930 e a Biblioteca foi dirigida, desde a sua instalação, por Lenyra Fraccaroli, normalista da Escola Caetano de Campos, influenciada por esse movimento. Ao mesmo tempo boa parte das crianças que frequentavam a Biblioteca e compunham o jornal estudavam em escolas particulares, onde essas ideias se lançaram primeiramente. A criatividade, a iniciativa e a participação em projetos eram estimulados, até por se tratar de um espaço diferente do da escola, mas a leitura de livros era obrigatória para que a criança pudesse ver um filme, por exemplo.

Tecendo em Reverso – De acordo com sua pesquisa, como as crianças e jovens reproduziam as ideias da sociedade à época?

AZILDE ANDREOTTI – A escola foi, naquele período, importante fonte de informação dessas crianças. Muito dos conteúdos representados no jornal traduziu essa influência e não poderia ser diferente. Afinal, a escola ao mesmo tempo em que exerce seu papel de propagadora de ideias, insere-se dentro de padrões sociais. Essa relação analisada como um todo nos fornece um retrato de aspectos culturais, educativos e sociais daquele tempo.


   Foto: Divulgação






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