Mauro Iasi é candidato a presidente
da República pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Nasceu em São Paulo-SP em 1960.
Graduou-se em HISTÓRIA pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Mestre e doutor em SOCIOLOGIA
pela USP, exerce o cargo de professor adjunto da Escola de Serviço Social
da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Exerceu
o cargo de presidente do Sindicato dos Docentes da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de 2011 a 2013.
Publicou os livros: O Dilema de
Hamlet – O ser e o não ser da consciência (Viramundo) e o recente As Ruas
– Poemas e reflexões pedestres (ICP), dentre outros. Integra o Comitê Central do PCB.
Foto: Divulgação
Tecendo em Reverso – O voto distrital representa um avanço com relação à
democracia representativa?
MAURO IASI – Não. Para nós, do PCB, a proposta do voto distrital
representa um retrocesso político. Vez por outra, os setores conservadores
tiram do colete a proposta de introdução do voto distrital nas eleições
proporcionais. Isto significa que cada eleitor só pode votar em candidatos
inscritos para disputar a eleição num distrito, ou seja, apenas numa
determinada jurisdição. Não poderiam votar num candidato domiciliado na capital
ou em outra região. Hoje já existe uma grande despolitização nas eleições
proporcionais, com uma tendência ao voto que privilegia os candidatos locais,
os quais prometem obras, serviços e favores aos seus eleitores, deixando de
lado as grandes questões nacionais e as lutas em prol de transformações sociais
e políticas efetivas, na contracorrente da ordem burguesa e do domínio dos
interesses capitalistas sobre a vida da população. O advento desta mudança
reduziria ainda mais a possibilidade do voto politizado, de opinião, tornando
minoritário o voto conscientizado, razão principal dos partidos
revolucionários. Uma vez eleito, o parlamentar distrital tende a se comportar
no parlamento como uma espécie de despachante da região que o elegeu e pela
qual pretende se reeleger. Com a implantação do voto distrital, o debate
político e ideológico dará lugar ao bairrismo e às disputas regionais.
Tecendo em Reverso – Como transformar a proposta de governo do PCB em
futuro?
MAURO IASI – Queremos transformar o programa político do PCB em
presente, pois é urgente reverter o quadro atual marcado pelos graves problemas
com que se defrontam os trabalhadores e o conjunto da população brasileira.
Estes não serão resolvidos com a manutenção e desenvolvimento do mercado e da
economia capitalista. Não é mais possível pensarmos que se enfrentarão as
profundas desigualdades existentes – a falta de serviços essenciais à vida
humana (alimentação, moradia, transporte, educação, saúde, lazer, cultura,
etc.), a barbárie em que se transformou a civilização do capital e da
mercadoria, com o genocídio dos pobres, dos negros, das populações indígenas –
aplicando políticas que visem ampliar o acesso aos bens materiais com o simples
crescimento econômico capitalista, o que só faz aumentar a destruição da
natureza e acaba concentrando ainda mais a riqueza na forma de lucros
acumulados privadamente. Nossa luta é para que os trabalhadores e a imensa
maioria da população brasileira participem conosco de um grande movimento em
defesa do Poder Popular, dando continuidade às grandes manifestações que
explodiram no Brasil em junho de 2013, revelando a enorme contrariedade do povo
com as condições de vida a que está submetido, sob imposição do capitalismo. A
saída para o movimento de rebeldia das massas é fazer com que esta luta assuma
um caráter político, isto é, a forma de um programa e de uma ação que se
apresente como uma real alternativa de poder ao domínio atual das classes
proprietárias.
Tecendo em Reverso – A atual juventude brasileira pode se espelhar na
práxis da juventude comunista do século XX?
MAURO IASI – Acredito que sim, no sentido de que a juventude
revolucionária – e não só aquela que integrava os partidos comunistas no mundo
– participou ativamente de movimentos responsáveis por grandes transformações
sociais e políticas, seja na tentativa de afirmação de propostas socialistas,
seja na resistência às determinações do capitalismo e às intervenções do
imperialismo. A juventude esteve presente nas manifestações de massas, nas
revoltas anarquistas e revoluções socialistas do século passado, participando ativamente
das inúmeras lutas contrárias às injustiças e desigualdades impostas pela
burguesia. Foi assim nas greves operárias do início do século XX, nas
revoluções de 1917 na Rússia, em 1949 na China, em 1959 em Cuba. Resistiu o que
pôde contra os regimes fascistas, apoiou os movimentos de libertação nacional
na Ásia e na África nos anos 1950, esteve junto às lutas por direitos civis nos
EUA, montou barricadas em Paris em 1968, foi às ruas em todas as grandes
cidades do mundo para protestar contra o ataque imperialista estadunidense no
Vietnam. No Brasil e em toda a América Latina, resistiu bravamente às ditaduras
financiadas pelo grande capital, imolando suas vidas em nome da liberdade e do
socialismo. A União da Juventude Comunista (UJC), ligada ao PCB, dá sequência
hoje à luta revolucionária e internacionalista dos jovens. Contamos com ela e
com toda a juventude brasileira que clama por mudanças radicais na sociedade
contemporânea para o processo de construção do Poder Popular e do socialismo em
nosso país.
Tecendo em Reverso - O exercício do cargo de presidente da república do
Brasil pressupõe concessões às oligarquias. O PCB pretende retomar a política
de aliança com a burguesia nacional?
MAURO IASI – Não concordo com a premissa colocada. A concessão às oligarquias
é feita pelos partidos burgueses e por aqueles que acabaram se rendendo à forma
capitalista de governo. A maneira que a burguesia encontrou historicamente foi
o desenvolvimento de uma institucionalidade política na qual muitos participam
– através das eleições – para que poucos governem, garantindo a dominação
exercida pela minoria de proprietários. Para reverter isso não basta uma
reforma política ou a engenhosidade de sistemas de representação, organização
partidária e sistemas eleitorais pitorescos. Só é possível contrapor o poder da
burguesia com o poder popular. A única maneira de contrapor o poder daqueles
que querem manter as formas de propriedade atuais e as relações sociais de
produção a elas associadas é constituir um poder capaz de enfrentá-los com a
força da mobilização popular para derrotá-los, neutralizando ou destruindo seus
recursos de poder. Não há a mínima chance de o PCB promover alianças com a
burguesia. O PCB defende que somente a Revolução Socialista, entendida como um
forte e poderoso processo de lutas populares que desemboque na construção de
uma sociedade alternativa ao capitalismo e à ordem burguesa, será capaz de
realmente resolver os problemas vividos pelos trabalhadores e setores
populares. Por isso o PCB apresenta uma alternativa anticapitalista e
socialista e lutará para que se constitua na sociedade a força política
necessária à sua implementação.
Tecendo em Reverso – No seu livro: O dilema de Hamlet lemos: “...o
dilema de Hamlet é o dilema da consciência militante. Vê o mundo se desmoronar
e vive profundamente seu sofrimento. Quer realizar a profecia de justiça, mas
se sente fraca como indivíduo diante das forças objetivas de um mundo que se
apresenta de forma invencível”. Como se dá o enfrentamento da problemática da
consciência no debate da contemporaneidade econômica e política?
MAURO IASI – Os capitalistas, através de todos os meios possíveis, desde
as formas de exploração direta dos trabalhadores nos ambientes dedicados à
produção, à difusão da ideologia dominante nos diversos espaços sociais
existentes, como as escolas, igrejas, etc, passando pela manipulação aberta com
o uso abusivo dos meios de comunicação, tentam neutralizar ou paralisar todo
processo coletivo de tomada de consciência das classes dominadas. A tomada de
consciência é a experiência que cada trabalhador individualmente e todos os
trabalhadores juntos – como classe – vão construindo a partir de suas próprias
lutas e suas próprias vivências. A consciência de classe se constrói todos os
dias. Ninguém nasce com ela. A consciência, como o senso comum, é um campo de
disputa. A militância revolucionária atua para que os trabalhadores e a
população explorada pelo capital compreendam que a raiz dos seus males está no
sistema capitalista, que seu inimigo principal não é o colega de trabalho, o
vizinho, o motorista do ônibus, o funcionário do comércio ou o servidor da
prefeitura, mas os donos dos meios que produzem a sua exploração. A criação de
uma consciência socialista pressupõe uma luta, desde já, para a construção de
organizações políticas autônomas, independentes e próprias da classe
trabalhadora, que tomem a iniciativa nos movimentos populares e que, nos
embates contra a ordem burguesa, construam uma poderosa força política unitária
contraposta ao bloco dominante, formulando um programa político de
transformações necessárias de caráter anticapitalista. Isto é o que chamamos de
Poder Popular. E temos certeza de que este processo está em curso no Brasil.
Por isso acreditamos que o socialismo não seja uma quimera, mas uma
possibilidade real e, acima de tudo, uma necessidade no mundo de hoje, marcado
pela barbárie capitalista.
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