O alagoano João Gomes de Sá aproximou-se das manifestações
da cultura popular ainda quando trabalhava no Museu de Antropologia e Folclore
Dr. Théo Brandão, localizado na Avenida da Paz em Maceió. Além de sua incursão
no cordel, o autor é dramaturgo e xilógrafo. São de sua autoria : O Auto do Boi Encantado,
Canto Guerreiro e os cordéis: A briga de Zé Valente com a Leide Catapora e,
mais recentemente sua adaptação em cordel da obra de Kafka: A metamorfose.
Foto: Divulgação
Tecendo em Reverso - Consta na sua biografia, o trabalho
no Museu de Antropologia e Folclore Dr. Théo Brandão. De que forma as
atividades ali exercidas despertaram o apreço pela cultura popular?
JOÃO GOMES DE SÁ – O interesse era natural – “interesse
interesseiro” – Os frequentadores geralmente eram estudantes de ensino médio e
universidades em busca de informações e esclarecimentos sobre as manifestações
de Cultura espontânea – o nosso Folclore. Para atender com fundamentos teóricos
e práticos, a direção do Museu organizava uma programação temática, ora
folguedos, ora danças e palestras privilegiando determinado tema – além de
curso sobre a cultura alagoana. A minha contribuição era atender e colaborar
nas pesquisas e trabalhos dos alunos e principalmente aos estudantes
universitários em trabalhos de conclusão de curso ou tese de pós-graduação,
mestrado ou doutorado; informava sobre o tão rico acervo do museu, mas, porém;
o que mais despertava interesse, contentamento e vontade de pesquisar e estudar
a cultura popular – eram os encontros com os folguedos e danças: o Guerreiro, A Chegança, As Baianas, O
Reisado, entre outros, pelo brilho da indumentária, da musicalidade, do ritmo,
do canto, da coreografia dos bailados, dos entremeios e da encenação de Autos.
Tecendo em Reverso -Atualmente há um considerável
trabalho de inserção do cordel no ensino de Literatura. Que importância terá a
leitura dessas obras nas diferentes séries do ensino fundamental e médio?
JOÃO GOMES DE SÁ - Sempre teve conhecimentos de que
alguns livros didáticos oportunizavam a literatura de cordel, mas de forma
muita acanhada e algumas vezes com alguns equívocos – isso outrora. Atualmente
estudiosos, pesquisadores, autores, poetas cordelistas e professores,
compreenderam a importância dessa manifestação rimada e metrificada como
ferramenta para estimular os nossos educandos ao estudo, a leitura e construção
da literatura de cordel – E aqui, agradecemos as editoras que investiram,
acreditaram e difundiram – agora em formato de livro ilustrado, papel de
qualidade – exigência do mercado editorial. Com certeza, se ainda estivesse
construindo meus cordéis em formato de folheto, em papel jornal ou em sulfite e
sem ilustração, não estaria realizando essa entrevista. O cordel continua com a
mesma técnica, o mesmo rigor na rima, a mesma forma, de cem anos atrás – mudou sua
apresentação, promoção e divulgação nos veículos coletivos de comunicação de
massa. Pois bem; para os educandos – às vezes – não ávidos pela leitura,
adentram o universo cordeliano de forma prazerosa, curiosos pela rima e
métrica; e daí, tudo isso se transforma em música – é o cordel! Tem, agora; uma
literatura sem rodeio, objetiva, precisa, atual e atuante, sem esquecer o
encantamento, a bravura, a magia, a valentia, a paixão, o ensinamento, o amor
dos protagonistas.
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Tecendo em Reverso -A realização oral através de gêneros,
como o repente e o cordel remetem a um resgate de múltiplas possibilidades de
desdobramentos artísticos. A seu ver há hoje um movimento voltado para a
encenação do que é produzido pela cultura popular, principalmente em
comunidades com pouco acesso à cultura?
JOÃO GOMES DE SÁ- Na verdade, os espaços para
espontaneidade e a informalidade sempre estiveram presentes em todos os
segmentos sociais, porém mais acentuado, nas comunidades sem condições
favoráveis de acesso às informações, e nesse contexto, a cultura popular – se
destaca, as tradições populares se renovam, todavia,atualmente, todos têm
acesso à informação, ao conhecimento, aos livros, à pesquisa e sendo assim;sou otimista – o mundo imagético, o mundo cibernético, as
redes sociais fascinam, seduzem e despertam interesse no público em geral para
buscar conhecimento na cultura popular. Veja quantos filmes, novelas, musicais,
teatros “bebem’ na fonte da cultura popular! E o cordel, nem se fala!
Tecendo em Reverso – Neste ano você presenteou o público
brasileiro com a publicação de Metamorfose de Kafka em cordel. Sua obra
apresenta uma variação no que diz respeito à métrica típica do cordel, e também
um forte apelo às questões sociais recriando nas estrofes o “emparedamento” dos
homens em meio às exigências de um mundo insensível e cada vez mais desumano”.
A temática da asfixia social é uma constante na obra do autor da Metamorfose.
Qual é o legado que Kafka nos deixou?
JOÃO
GOMES DE SÁ - A reflexão!A fuga ao consumismo! É necessário humanizar a vida!
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conhecimento é fundamental! Combater a desigualdade social!
Não
são “bordões”, “pregões”, com Kafka aprendi a olhar a vida com meus próprios
olhos.
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Tecendo em Reverso – Em suas viagens pelo Brasil, você
ministra oficinas literárias. Como nasceu o projeto “Salão do Cordel”?
JOÃO
GOMES DE SÁ – Sempre tive a vontade de organizar e promover eventos, encontros,
tendo como tema central a Literatura de cordel. Quando, em Guarulhos/SP (2006),
trabalhei na Secretaria de Cultura – Biblioteca Monteiro Lobato – nasceu aí a
oportunidade. Realizamos o I e II Salão do Cordel – com uma programação
Literomusical: feira de cordel, exposição de xilogravura, repentistas,
cordelistas, poetas cantadores, músicos, palestras, oficinas, contação de
histórias e danças.
Com
o êxito, apresentei a proposta para a Diretoria de Cultura de Lençóis Paulista
– e já realizamos quatro edições, realizamos no Memorial da América Latina, em
Barueri/SP e em Guaranésia/MG. Recentemente em Guaxupé/MG.
Dica de leitura:
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Por Juliana Gobbe
PASSEI AQUI PARA AGRADECER E PARABENIZAR MINHA QUERIDA JULIANA GOBBE. UM ABRAÇÃO.
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