Vera Lucia Martiniak é graduada em Comunicação
Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1993) e em Pedagogia pela Universidade
Estadual de Ponta Grossa (1998). Possui mestrado em Educação pela mesma
Universidade (2003) com doutorado também em Educação pela Universidade Estadual
de Campinas –UNICAMP. Atua como professora de Pós-Graduação na UEPG e é membro
do grupo HISTEDBR.
Em
sua pesquisa no pós-doc sob orientação do Prof.Dr. José Claudinei Lombardi na
UNICAMP a pesquisadora debruçou-se sobre a temática das escolas étnicas na
província do Paraná. Confiram:
Foto: Arquivo pessoal da pesquisadora.
Tecendo
em Reverso – Quais as demandas que a levaram a ter como objeto de pesquisa no
pós-doc: “Trabalho, educação e imigração: Constituição das escolas étnicas na
província do Paraná”?
VERA LUCIA MARTINIAK – Primeiramente, a intenção de pesquisa
originou-se pela continuidade e aprofundamento das pesquisas desenvolvidas
pelos pesquisadores do HISTEDBR – GT Campos Gerais, PR, que tem focado suas
pesquisas nos últimos anos sobre a história das instituições escolares, nas
quais têm convergido para alguns temas em comum, tais como: imigração,
escravidão e educação pública. Para tanto, os pesquisadores têm utilizado
diversas fontes para o desenvolvimento dos seus estudos, desde a imprensa até
documentos oficiais e cartas pessoais.
A partir disso, por meio de análise da historiografia, tanto
regional quanto nacional, apontou-se para a necessidade de investigar com mais
profundidade a relação entre o trabalho livre e assalariado, a educação e a
criação das escolas étnicas, subvencionadas e particulares, para atendimento da
população imigrante. O Paraná recebeu um número significativo de imigrantes de
diferentes etnias que se organizaram para se manterem na província, porém, essa
temática ainda é pouco abordada nos estudos dos pesquisadores. Essa questão
suscitou a inquietação em compreender os motivos que levaram a constituição das
escolas étnicas na Província do Paraná a partir de novos parâmetros impostos
pelo setor produtivo e a ausência do poder público para a criação e manutenção
de instituições escolares para atendimento da população brasileira e imigrante.
Diante da omissão do governo os imigrantes organizaram-se nas colônias para
oferecer a instrução primária para seus filhos.
Muitas escolas criadas pelos imigrantes mantêm-se em funcionamento
até os dias de hoje e são referência, histórica e educacional, para a sociedade
brasileira.
Tecendo em Reverso- Diante do caráter ideológico vigente à época
delimitada por sua pesquisa. Como se deu a compreensão da institucionalização
das escolas de imigrantes?
VERA LUCIA MARTINIAK – Os imigrantes, como em sua terra de origem,
consideravam que as autoridades deveriam prover a população com a oferta de
ensino público nos núcleos coloniais. Entretanto, diante do quadro educacional
paranaense desanimador, eles criaram as suas próprias escolas,
responsabilizando‐se pela instalação e manutenção, tanto do professor quanto da
estrutura escolar. Cabe destacar ainda, que as escolas criadas pelos imigrantes
atendiam também a população brasileira que residia próximo das colônias.
Tecendo em Reverso- O que caracterizou a inserção do imigrante
europeu no sistema produtivo brasileiro?
VERA LUCIA MARTINIAK – A imigração europeia ocorreu devido a expropriação
dos meios de produção dos trabalhadores na Europa e o consequente descontentamento
da população que ocasionou a saída de grande parte da população para outras
regiões do continente e do ultramar. Entretanto, muitos foram iludidos e
enganados com falsas promessas e propagandas que prometiam terras, acesso à
condições e bens materiais. Ao chegarem nas terras brasileiras não lhes restava
outra alternativa que não fosse a venda de sua força de trabalho. Muitos
precisaram submeter-se aos contratos de parceria com latifundiários que causaram
endividamento ou ainda, aceitar o trabalho assalariado nos centros urbanos.
A necessidade do emprego da força de trabalho nas lavouras de café
fez com que o Brasil se tornasse destino dos imigrantes europeus, porém, no
Paraná, o processo de absorção desses imigrantes visou o abastecimento do
mercado interno com a produção de gêneros de primeira necessidade. A vinda de imigrantes
significou a diversificação de usos de instrumentos e técnicas na produção agrícola,
com estímulo à economia para o mercado interno de gêneros alimentícios e também,
como pano de fundo, o branqueamento da população brasileira.
Tecendo em Reverso – Como delineava-se ao final do século XVIII a
situação educacional na província paranaense e de que forma este contexto
influenciou as novas propostas?
VERA LUCIA MARTINIAK – Depois da emancipação da Comarca de São
Paulo, a educação na Província do Paraná encontrava-se em estado precário. Até
então, por ser uma extensão da economia paulista, a relação com a Comarca,
devido à distância, era de descaso e negligência com as necessidades do
interior. Apenas uma minoria da população frequentava os cursos de primeiras
letras, o ensino secundário era praticamente inexistente e o pouco que havia em
Curitiba atendia a demanda local e do interior da Província. A máquina
administrativa recém constituída foi representada por homens que se dedicavam
ao comércio, e um dos desafios dessa elite foi atrair os governados para sua
administração. A instrução pública foi utilizada para chamar a atenção da
população, pois além de o governo conquistar maior visibilidade por meio da
educação, teria também mão-de-obra com melhor formação.
A situação educacional da província era extremamente difícil,
pois, sofria com a ausência de professores e escolas, e essa carência
preocupava as autoridades locais, pois a população crescia e necessitava de uma
educação escolarizada. Existiam poucas unidades escolares, tanto no que se
refere ao ensino de primeiras letras como ao ensino de nível secundário. Um
outro aspecto que merece atenção diz respeito à infraestrutura desse ensino.
Como as escolas não tinham prédios próprios para a realização das aulas, a
solução encontrada foi mantê-las em casas alugadas pelo Estado.
Tecendo em Reverso- Na sua pesquisa lemos: “É perceptível o
caráter elitista e discriminatório na educação brasileira, o ensino trazia
resquícios da época de sua implantação, ou seja, era voltado para o atendimento
da elite, sem nenhum compromisso com as classes populares, principalmente
filhos de escravos e imigrantes”. De que forma esta perspectiva se desdobra na
atualidade brasileira?
VERA LUCIA MARTINIAK – Do ponto de vista educacional, as políticas
públicas implementadas no país tornam visível um processo dualista que se
configura na exclusão da classe trabalhadora e no impedimento do acesso ao conhecimento
necessário para a emancipação dos indivíduos. As políticas educacionais
necessitam ser coerentes com uma educação pública e de qualidade e para tanto, a
educação não deve ser utilizada, como vem acontecendo historicamente, para
agravar e perpetuar uma sociedade de classes na qual o modo de produção
material continua centralizado nas mãos de poucas pessoas.
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