sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Uma didática para a pedagogia Histórico-Crítica


O livro Uma didática para a Pedagogia Histórico-Crítica de João Luiz Gasparin foi distribuido para todas as escolas do estado de São Paulo através da Secretaria da Educação no projeto Leituras do Professor. Para além da angústia conformista que muitas vezes se encerra entre as paredes da sala de aula, ora culpabilizando professores, ora alunos o  autor propõe uma didática interligada com a prática social dos educandos num movimento dialético de percepção do contexto histórico na prática educativa.
Leitura Recomendada.

Abraços,
Juliana Gobbe

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

RESENHA: EDUCAÇÃO E ENSINO NA OBRA DE MARX E ENGLES, DE JOSÉ CLAUDINEI LOBARDI. CAMPINAS, SP: ALÍNEA, 2011. 256 P.
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            Após anos de intensas pesquisas José Claudinei Lombardi publicou no ano de 2011 a obra Educação e ensino na obra de Marx e Engels. Texto derivado de sua livre docência pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (FE-UNICAMP), o livro está editado pela Alínea, na cidade de Campinas-SP. No geral, o trabalho pretende colaborar com a crítica das atuais transformações político-ideológicas que vêm ocorrendo nas universidades “públicas” do Estado de São Paulo, notadamente neoliberais (elitistas, privatizantes e antimarxistas). Para além das críticas ao atual sistema, o livro também objetiva auxiliar os educadores no empreendimento de uma ruptura com a educação burguesa, vislumbrando a possibilidade de o proletariado conduzir, no futuro, sua educação de forma autônoma e liberta.
            Logo nas primeiras linhas da introdução, o autor assume sua filiação marxista ao afirmar que é impossível pensar a educação de forma abstrata e separada da vida social. Na realidade, para compreender a educação (e o ensino) é fundamental articular estas ao modo de produção da vida material por meio do materialismo dialético.
            Nesse sentido, de acordo com Lombardi, não podemos entender a educação ou qualquer outra esfera da vida social descoladas do contexto histórico em que surgem e se desenvolvem. Foi assim que “Zezo” como o autor é popularmente conhecido abre o primeiro capítulo do livro denominado: “Iluminismo e enciclopedismo: luzes, progresso e revolução”. Nesta parte, ocorre uma contextualização do período histórico em que surgiu o pensamento de Marx e Engels, informações que são essenciais para se entender as formulações que os comunistas fizeram acerca da educação.
            Expondo a sua concepção teórico-metodológica da História, por meio dos escritos de Marx e Engels, Lombardi escreveu o capítulo 2: “Minhas referências de análise, as balizas do marxismo”. Neste trecho, são analisados os pressupostos da concepção materialista dialética da História, o que implica trabalhar com três categorias fundamentais: “Revolução”, como o processo de transformação das estruturas econômica, social e política (seja de um modo-de-produção ou de um regime social); “Luta de classes e esta como motor da História”, onde não existe solução na conciliação ou dialogo e sim no sangrento embate entre as classes antagônicas e a “Violência e leis do desenvolvimento da história humana”.
            Adentrando-se no terceiro capítulo: “A categoria modo de produção e o princípio da união entre ensino e trabalho”, Lombardi analisa as relações entre a educação e seus profissionais, entendendo que este campo não foi constituído por meras ideias subjetivas, abstratas, sobrenaturais ou místicas, mas em consonância com os aspectos materiais e objetivos, que correspondem às forças produtivas e relações de produção articuladas aos diferentes modos e organizações de produção, historicamente construídas pelos homens e particularmente consolidadas nas mais diferentes formações sociais.
            Assim, compreender a História da Educação é analisar o processo histórico de transformação das relações do modo de produção e a educação, aspectos explorados no capítulo 4: “Análise marxiana sobre educação no modo capitalista de produção”.  Em decorrência dos objetivos do capital, a educação que o Estado burguês destina à classe trabalhadora é extremamente precária, aparecendo como mera exigência legal, graças às lutas e reivindicações proletárias ou como “regulação” da burguesia, que por meio da instrução, ideologiza a exploração capitalista como algo “natural”. Ademais, a revolução industrial capitalista aprofundou a divisão e a simplificação do trabalho, repercutindo na falta de importância que a burguesia passou a depositar na qualificação dos operários, ou seja, para se apertar botões não existem grandes necessidades de instrução[1].
            O capítulo cinco é reservado ao estudo que Lombardi fez acerca do “Trabalho e instrução das crianças trabalhadoras”, onde é destacado um cenário de ignorância e analfabetismo, tanto entre os professores das escolas populares como entre os operários. Nesse quadro social, na Inglaterra do início do século XX, os trabalhadores eram “banidos” do acesso à cultura clássica, que constituída coletivamente na História da humanidade foi apropriada e acumulada, de forma privada, pela burguesia que, enquanto classe dominante, boicotava aos trabalhadores o acesso a estas informações por temor de seus efeitos “perigosos” ou “subversivos” ao status quo. Já a demanda que os proletários tinham por educação para seus filhos produzia um efeito “artificial”, pois, a longa jornada de trabalho das crianças impossibilitava o aproveitamento escolar[2]
            Após discorrer sobre a precária educação da classe trabalhadora, a última parte da obra é baseada em “encaminhamentos” expressos no capítulo 6: “Fundamentos da proposta pedagógica comunista - Marx e Engels”. Aqui se encontram as propostas que os comunistas fizeram para a educação dos trabalhadores de sua época. Entre as principais “bandeiras” estavam: o fim da exploração capitalista das crianças que trabalham nas fábricas; junção entre educação e formação e produção material; educação politécnica que desenvolva a omnilateralidade nos homens, o que envolve uma formação articulada entre exercícios mentais, físicos e técnicos, configurados conforme a idade das crianças, jovens e adultos; indissociabilidade da educação e da política; união entre tempo livre e o tempo de trabalho, ou seja, o trabalho, o estudo e o lazer.
            Estas “bandeiras” para a educação foram entendidas como fundamentais instrumentos de desalienação dos trabalhadores, e, portanto, um meio para encravar a revolução proletária. Para esta estratégia também era fundamental exigir uma educação estatal, gratuita, laica, obrigatória e universal, aspectos da ideologia socialista que foram apropriados pela burguesia na sua luta política e ideológica contra o proletariado. 
            Em linhas gerais, o livro corre de forma clara, didática e sem neutralismos, onde Lombardi colabora com uma atitude propositiva. Para o autor, em tempos de defesa apologética da irracionalidade, da subjetividade, do fragmentário, do microscópio, da ideia e do particular, os educadores não possuem motivos para ficar na retaguarda, “[...] precisamos resgatar as armas teóricas de um ponto de vista que vislumbre a materialidade [...]” (p. 239), a objetividade, a racionalidade revolucionária e a totalidade histórico-social.

Rodrigo Molina
Historiador e doutorando em Educação na Universidade Estadual de Campinas. Pertencente ao grupo de estudos "História, Sociedade e Educação no Brasil" (HISTEDBR).
  




[1] A exceção da regra é a formação especializada dos “capatazes”, um diminuto pessoal encarregado do controle e gerenciamento dos processos produtivos.
[2] Contemporaneamente, Lombardi entende que a estrutura desse sistema de exploração não se alterou

Esta resenha foi publicada pela primeira vez na Revista Germinal: Marxismo e Educação em Debate em 2012.