O escritor Pedro Monteiro é piauiense de Campo Maior. Sua
infância deu-se no roçado ao som das histórias contadas sob a luz de lamparinas
ou em terreiros clareados pelo luar.
O apetite pelos livros fez com que o autodidata Pedro
pudesse aguçar a imaginação e sua verve observadora.
Aos dezessete anos pousou com suas palavras em terras
paulistanas onde angariou novos conhecimentos e, sobretudo pode através do
contato com a periferia da metrópole ampliar sua luta por justiça e
solidariedade. Sobre isso o autor comenta: “ É agir contra o embrutecimento, a
alienação, e a coisificação do homem”.
Há pouco tempo em companhia de Júlio Verne deu “A volta
ao mundo em oitenta dias” numa bela adaptação em cordel do clássico do escritor
francês.
Com Pedro Monteiro o blogue Tecendo em Reverso reforça a
frase de Suassuna...nós também não trocamos nosso oxente pelo ok de ninguém.
Foto: Arquivo pessoal do autor
Pedro Monteiro por ele mesmo:
Sou
poeta cordelista
Me
chamo Pedro Monteiro,
Amasso
o barro da rima
No
metro do bom oleiro,
Sou
um campo-maiorense,
Das
terras Piauiense,
Nosso
sertão brasileiro.
Tecendo em Reverso – Como se
deram as primeiras aproximações com a Cultura Popular?
PEDRO MONTEIRO –
Interessante; eu tenho muitas lembranças de quando era menino, das festas de
reis “boi de reisado”, das conversas nos terreiros em noites enluaradas ou
mesmo alumiado por lamparina. Sempre que ia dormir, minhas irmãs mais velhas entoavam
cânticos em cordel. Isso mesmo, a leitura era cantada, além de muitas
histórias. Destaque para os cordéis que cantavam da chegada de Lampião no Céu,
no Inferno, José de Souza Leão, As bravuras do valente Apolinário, Princesa da
pedra fina, A triste Partida e Pavão Misterioso, entre outros. Cresci, migrei
para São Paulo aos 17 anos e só em 2008, já com 52 anos, fazendo uma pesquisa
sobre linguagem, para concluir minha participação ao fazer uma oficina de
direção teatral foi que reencontrei a Literatura de Cordel. Graças a um
encontro com os poetas Marco Haurélio, Varneci Nascimento e João Gomes de Sá,
que participavam de uma feira de Cultura Nordestina no Anhembi. A partir desse momento, fui encorajado por
Marco Haurélio a escrever Chicó, o Menino das Cem Mentiras, minha estreia no
mundo do Cordel, daí, acho que despertei para uma vocação que, até então,
desconhecia.
Foto: Arquivo pessoal do autor
Tecendo em Reverso- Há em
alguns de seus livros uma certa aproximação com o teatro que nos remete à obra
de Ariano Suassuna. Qual é o legado que Suassuna deixou ao povo brasileiro?
PEDRO MONTEIRO— Uma riqueza
grandiosa. Um mestre no conto, no romance, na poesia e na prosa. Dotado de tino
afeiçoado ao humor refinado, mas sem abrir mão da crítica velada às injustiças
sociais. Ele transforma o simples em obra de grande erudição. Curioso, ele buscou
inspiração nos folhetos de cordéis para brilhar nos palcos teatrais, telas de
cinema e televisão. Exemplo: O Auto da Compadecida e A Pedra do Reino, O Príncipe
do Sangue do Vai e Volta, entre
outras. Uma grande perda para a cultura Brasileira.
A cultura
popular
Tem hoje grande lacuna,
A morte sempre inclemente
É uma perversa gatuna,
Fila cristãos e ateus,
Desta vez levou pra Deus
Ariano Suassuna.
Tem hoje grande lacuna,
A morte sempre inclemente
É uma perversa gatuna,
Fila cristãos e ateus,
Desta vez levou pra Deus
Ariano Suassuna.
Tecendo em Reverso-
Atualmente nas grandes metrópoles ocorre um movimento difuso da cultura popular
em seus diversos seguimentos, tais como: teatro, música e dança. Como você
avalia esse momento?
PEDRO MONTEIRO – Acredito
que seja resultante de uma necessidade de respostas, dado a sua importância no
contexto cultural de um país, pois ela é o que temos de mais legítimo. Dessa
forma, parece valer além do anseio popular, também o acadêmico, onde a
Xilogravura, o poeta repentista também vem ganhando mais espaço.
Foto: Arquivo pessoal do autor
Tecendo em Reverso- A sua
obra mais recente: “A volta ao mundo em 80 dias” encontra-se inserida no
projeto Clássicos em Cordel. Como foi adaptar a obra de Júlio Verne, um dos
autores mais traduzidos em todo o mundo?
PEDRO MONTEIRO- Uma
responsabilidade e tanta! Uma grande responsabilidade. Primeiro, pela
importância do seu autor e dessa obra para a literatura Universal. Depois, por
recontar essa história dentro dos padrões necessários para compor a “Coleção
Clássicos em Cordel”, coordenada por Marco Haurélio e publicada pela Editora
Nova Alexandria.
Tecendo em Reverso – Qual é
a sua avaliação sobre a inserção do Cordel no atual “mercado” editorial?
PEDRO MONTEIRO – Acho que,
cada vez mais, os leitores vêm descobrindo e tomando gosto pela Literatura de
Cordel. Isso, graças a vários fatores, merecendo destaque para a qualidade das
publicações: conteúdo dos textos, gramática,
ilustrações mais atraentes e também no formato de livros. Dessa forma, ocupam
espaços nas grandes livrarias e salas de leituras, antes, jamais ocupado,
ganhando, assim, mais e mais visibilidade.
Juliana Gobbe