Dando início ao ciclo de
entrevistas com os pesquisadores da educação no Brasil, o blog Tecendo em
Reverso entrevistou o Profº Drº Eraldo Leme Batista que defendeu no início
deste ano na Unicamp sua tese de doutorado com o tema : Trabalho e educação profissional
nas décadas de 1930 e 1940 no Brasil: análise do pensamento e das ações da
burguesia industrial a partir do IDORT.
A tese contou com a
orientação do renomado Profº Drº José Luís Sanfelice (Unicamp).
Na entrevista o
pesquisador discorreu sobre a criação do IDORT (Instituto de Organização
Racional do Trabalho), a atuação do Estado Novo em relação aos movimentos sociais
à época e como se deu a cooptação dos trabalhadores pela burguesia.
O blog Tecendo em Reverso agradece Eraldo Leme Batista por esta valiosa contribuição para a
educação brasileira.
Tecendo em Reverso - Em que cenário sócio e econômico se deu
a criação do IDORT (Instituto de Organização Racional do Trabalho) no Brasil?
ERALDO LEME BATISTA - Em 1929, aprofunda-se crise
econômica mundial, com a quebra da bolsa de valores de Nova York, essa crise
mundial afetou o comércio e a indústria no Brasil, contribuindo para o aumento
do desemprego e das péssimas condições de trabalho no país. Outra crise desencadeada
no país foi a sucessão presidencial de 1930 que, por diversas denúncias de
fraudes, levou a um conflito político que só teve resolução com a condução de
Vargas ao poder. Em três de novembro daquele, Vargas toma posse como presidente
provisório do novo governo.
A disputa pelo poder em 1930, a subida de Vargas ao
governo central e as suas acirradas disputas com a burguesia paulista
demonstravam as divergências que existiam entre as frações da classe dominante,
notadamente, entre fazendeiros e industriais paulistas, que se organizaram e
buscaram construir sua hegemonia enquanto fração de classe, a partir do ideário
industrialista e inspirado nas teses tayloristas. Foi neste contexto político
que os industriais criam o IDORT em 1931.
Tecendo
em Reverso - Na sua tese lemos: “Nesse processo de transição pelo “alto”
ocorrido em 1930. [...] houve a exclusão de qualquer participação operária na
direção econômica, social ou política do país”... Como reagiram os sindicatos e
as lideranças operárias? Houve luta ideológica pela hegemonia?
ERALDO LEME BATISTA - Entendo que foi um
processo político, de mudanças na sociedade, com pactos entre as frações de
classe burguesa, sem participação dos trabalhadores. As transformações do trabalho no Brasil não
ocorreram de forma pacífica, aceitável ou mesmo com a submissão dos
trabalhadores. O surgimento das indústrias, a concentração cada vez maior de
habitantes nas maiores cidades do país, os crescentes problemas sociais (falta
de moradia e de trabalho, saúde pública precária) e as péssimas condições de
trabalho, mais a intensa exploração da força de trabalho no espaço fabril, contribuíram
para que os trabalhadores organizassem movimentos contestatórios, pelos
principais centros urbanos do país.
Quero observar que houve resistência
dos trabalhadores, disputa política e ideológica por uma sociedade justa.
Disputa acirrada de hegemonia nos anos 20 e 30, levando o Estado a intensificar
a repressão, tanto ao Partido Comunista, como as organizações sindicais dos
trabalhadores.
Tecendo
em reverso - De que modo o Estado Novo atuou em relação aos movimentos sociais? Getúlio Vargas inspirou-se no fascismo
italiano de Benito Mussolini?
ERALDO LEME BATISTA - Entendemos
que sob o Estado Novo, a burguesia industrial, visualiza seus interesses
concretizados, pois os trabalhadores e movimentos sociais “indesejáveis” são
tratados com repressão pelo Estado. Vargas tem projeto autoritário de poder,
foi um líder antidemocrático e não mediu esforços para reprimir a luta dos
trabalhadores e para perseguir as lideranças comunistas. Sob o Estado Novo, os
trabalhadores e lideranças “indesejáveis”, eram presos, torturados e
assassinados, sendo que os estrangeiros eram deportados para seus países de
origem.
Vargas
era anticomunista e sua relação com os nazistas e fascistas, contribuiu para
torná-lo ainda mais autoritário e repressor.
Tecendo
em Reverso - Como ocorreu a “cooptação”
dos trabalhadores pela burguesia à época?
ERALDO LEME BATISTA - Ao mesmo tempo que
reprime os movimentos grevistas, contestatórios, coopta os industriais para seu
projeto de governo, implementando políticas em prol da industrialização, vai
introduzindo políticas de cooptação, também dos trabalhadores. Implementava políticas
que visassem tal cooptação, intensificando também o discurso ideológico de uma
sociedade harmônica, sem classes, na qual todos estariam do mesmo lado, não
existindo patrões e operários, mas empregados e empregadores. Vargas defende
uma proposta de um sindicalismo que defendesse a conciliação de classes e
contribuísse para harmonia de interesses entre capital e trabalho. Neste
sentido, afirmo que foi o Estado que gestou todo o processo de cooptação dos
trabalhadores, beneficiando a indústria, reduzindo consideravelmente,
principalmente durante o Estado Novo, as lutas sociais.
Tecendo
em Reverso - Sabe-se que desde sua criação em 1.922 o PCB (Partido Comunista
Brasileiro) também conhecido como “Partidão” estabeleceu uma oposição ao
pensamento burguês. Qual foi o papel deste partido na organização da classe
trabalhadora brasileira?
ERALDO
LEME BATISTA - Entendemos que a fundação do Partido Comunista do Brasil, foi um
marco na história do comunismo no país, além de ter se tornado um marco para o movimento operário. Foi fundamental no
processo de organização da classe trabalhadora brasileira nesse período.
Partido que surge em 1922 e passa a desenvolver trabalho político na
organização dos trabalhadores. Este partido entendia e defendia a importância
da luta política, não ficando apenas no campo da ação sindical, confrontando-se
com a burguesia na disputa pelo controle do Estado, além de confrontar-se com o
principal movimento de direita do período, que foi o movimento dos
integralistas.
Abraços,
Juliana Gobbe